sexta-feira, 7 de maio de 2010

QUEM ME DERA...




A chuva cai lá fora, e o vidro da janela escorrendo água como se fossem lágrimas... O dia frio comparado aos demais da semana que acaba de acabar. É domingo e no quintal o lamaçal que se forma, lambuza o cãozinho que também observa a chuva, triste. Quem me dera estar lá fora, sem medo de ser feliz, a correr como uma criança, sem preocupar-se com a roupa suja, ou até mesmo sem roupas. Livre para rir e chorar ao mesmo tempo, com a felicidade estampada no peito e o sorriso estampado no rosto. Apenas sentir a água que cai de não sei onde e vai para um lugar aí que desconheço. Olhar pra cima e ver pingos grossos a cair em minha direção, olhar pra cima e fechar os olhos, apenas sentir os pingos e o momento.
Aqui dentro, sob um telhado, apenas a lembrar do passado. Separar os bons e os maus momentos, escolher os bons e rir deles. Sorrir sozinha... O peito apertado a chorar pelo que não volta, a testa franzida, e posso ver no olhar cada cena vivida algum dia. Quem me dera poder voltar e viver intensamente a cada uma. A infância e as brincadeiras com o cãozinho no quintal, as correrias com primos próximos que hoje não vejo mais, o leite em pó que um dia peguei escondido de todos só pra me deliciar do proibido. O primeiro beijo, as festas de páscoa na escola e o frio na barriga por ter a certeza de que vem bronca do diretor por esquecer uma tarefa. As desculpas esfarrapadas em situações mais esfarrapadas ainda.
Sob um cobertor quentinho, penso na semana que está começando. Um aperto no peito receia a semana corrida que me aguarda. O leite em pó hoje em dia é colocado de manhã cedinho para um café apressado, o mundo me espera. Garganta quer gritar, mas engole seco. A lágrima cai sem querer, mas cai.
Quem me dera poder sair correndo pelas ruas descalça, soltar um berro e fazer o mundo ouvir a felicidade imaginária. Esquecer os problemas no meio do tempo, sentir o vento... Poder chorar sem medo de ser feliz e ser feliz simplesmente por não deixar tristeza engasgada.
Ouço a chuva no telhado, céu quer parar de chover e eu já parei de chorar. O som das gotas faz parecer que a chuva está batendo palmas. Chão e teto molhados, garganta e face secas. Imagino sozinha o futuro. Quem me dera ter conhecimento sobre ele, saber dos erros para não mais cometê-los, saber dos acertos para festejá-los desde já, saber das situações para ter o que dizer, saber quem realmente me ama para dá-lo valor.
A chuva cai lá fora e aqui dentro sob um cobertor quentinho, ouço a chuva no telhado. O sono me faz ter sonhos e depois de acordada reflito no agora. Passado vivido com gosto, hoje na memória faz-me rir. Devo viver o agora, que um dia será meu passado e refletirá no amanhã que um dia será o meu agora. Viver intensamente este momento. Um dia eu disse: quem me dera viver bem. E hoje vivendo bem eu lembro do meu quem me dera. Saber viver, viver... Eu vivo!

2 comentários:

  1. Eu vivo! Um alento ao coração saber que coisas tão simples são o que realmente importa. E que é isso que vai virar lembrança no futuro.

    Esse texto é muito rico. Gosto muito dele, você sabe...

    e vamos viver, BEM!

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  2. Tão grata fico com seu comentário. Estou feliz por agradar. Vivamos bem, ambas. Por ti cresce a minha saudade.

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